domingo, 23 de outubro de 2011

Sopro

  Um grito. Um silêncio. Mais um pouco daquele gole de verdade derramada. Certezas. Impurezas. Raiva que dilacera. Transfigura-se. Decepciona. A covardia é o ato mais impuro. Talvez. Sempre em círculos. O mar. O vento. O sopro gélido das manhãs abençoadas. A face. À espreita. Envolta de pena e nada mais. Ponto. Final? Ainda. Depois. E um pouco mais.
  São as correntes. É a fala. A ação desaparece. Vê-se claramente o que é. A realidade. Os sinais de concretude. A vitalidade. Coragem. Força. Determinação. A juventude. Em muito. E também em quase nada. A correnteza traz as respostas. E as julga. Perde-se na ventania dos próprios batimentos da alma. Do doce amargar da solidão. Da falta. De um olhar que repudiasse e assumisse falhas diante do espelho. Buscou e encontrou.
  Nada faz nenhum sentido. Somente as palavras escritas enquanto respira. É o mesmo. Sinal. Chama. Paz. Retorno. Silêncio. Solidão. Angústia. Ciclo. Verdade. Regresso. Lembranças. Passado infinito. Retalhando. Desfigurado. Perdido. Recuperado. Solto. Assim como a brisa ensurdecedora em seus ouvidos.
   Canto forte. Rima fraca. Olhares cobertos de tudo que já se misturou na terra. Desmedida vontade. Insegura. Provoca a madrugada que exclama que há pelo que se viver. E há mesmo. A pele. O anoitecer. O luar. A memória. O significado permanece. A sombra se desfaz. Vê o sorriso daquela garota que gostaria de chorar quando ainda era muito menina.
    A imagem não mente. É antiga, mas não mente. A alegria não estava ali. Acabou. Já não existe possibilidade de terminar bem. Misturou sentimento com texto, enquanto olhava sua velha foto. Continuar é impossível. Restam vestígios de lucidez e a emoção bate agora em sua porta. Virou clichê. Bobagens à toa. Engole sorrisos. Mágoas. O ontem. O possível amanhã. E o chamado para atrapalhar outra vez. Não deve ser muito complicado compreender que para cada sensação transcrita é preciso foco.
     Não há mais solução. É preciso parar. Em qualquer momento os sinos tocarão e desvanecerá em cinzas. A sua luz se estingue. Vibra. Soluça. Ainda tonta dos desejos esquecidos. Quase. Levanta-se. Ergue. Degusta mais um pouco da fumaça e deixa que o vento a fortaleça.

2 comentários:

  1. Não consigo ler uma prosa sua sem comentar. A começar que elas são esteticamente perfeitas. Depois, são intensas e misteriosas. E ainda tem o deleite que sinto em cada sentido que dou aos que você criou. Espero que continue sempre escrevendo e publicando, para que eu possa ler. E estarei lendo sempre. Parabéns pelo seu talento da escrita, é algo muito bonito. =)

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  2. Obrigada, Antônio! Fico muito feliz em saber que minha escrita te agradar. Um beijo para ti!

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