quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A Deusa e a Fada



   Dias cinzas. Veneno que habita o corpo. Coração trancado. Quase cética. Impregnada pelas verdades. Numa solidão profunda. A mais forte existente. Sim. Então, veio a fada iluminada. Tentando quebrar correntes. Apagar sentenças e julgamentos. Entre abismos e desilusões, a deusa entregava-se lentamente.
   Com os olhos cansados, despia-se de qualquer posto dado por outros. Longe dos medos e impuros tratados. Não era o que disseram ou queriam. Sorria. Calmamente flutuava entre uma frase e outra. A tempestade veio, então. A deusa que de muito confiar, afastou-se do mundo dos sentimentos, constatou que a confiança é sim um bem valioso. Não se deve entregá-la a qualquer ninfeta despudorada. Muito menos para aquelas que se iluminam de vontades.
  A fada, abalada em suas convicções, já não sabe ao certo quando errou. Ou quando simplesmente o tempo foi necessário. O que ela queria mesmo, era a permissão para levar a outra aos mais fantásticos mundos. Deixar ser levada para a história que pode ser vivida. Dar-lhe o mundo. E em cada mimo um sorriso. Em cada cálida palavra um gesto. Porque já viu a deusa despida de armaduras. E naqueles olhos viu o brilho mais intenso de todos.
  Então, ela já entendeu muito bem o que quer. A fada. A felicidade da outra. Da menina escondida em metáforas e signos. Em uma brutalidade meiga. Na verdadeira essência que esconde para não se machucar. Não adianta disfarçar. É transparente. Sua fragilidade. Seu ímpeto de ser mais forte do que realmente é. A dor por trás da máscara da absoluta certeza de qual será o próximo passo. E nenhuma das duas sabe. O que virá.
  Ainda assim, a fada sabe bem que brinca com fogo. Que a próxima ação pode desabar o castelo construído. Mas, ela é paciente. Como bem já disse. Determinada, espera. Sempre esperou. Pela próxima abertura. Enxerida que só. Ri. Em seu jardim, que também existe. Nas madrugadas cobertas de fumaça. Na varada que outrora o pedido foi feito. E concedido, após eternas batalhas.
    Não esquecerá nada. Dessa história. Das lembranças. Das tardes. Das canções. Porque a deusa pode ter certeza que ganhou uma fada para si. E sua luz será somente dela. Sem nada em troca. Mesmo que não acredite. Um dia perceberá. Que tudo que pede é que a deusa seja feliz.

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