terça-feira, 1 de março de 2011

Entrega

    Preciso da fumaça que inebria a noite. Preciso de emoção. Calor que domina a pele. Que intensifica a paixão. Quero e ardo por tudo que me arrasta para o deleite do inesquecível. Sussurros. As palavras ditas intensificam qualquer sensação. Sempre soube o efeito que me causam. Então, as perco. Estremeço. Esqueço-me de mim. Por alguns instantes nada é tão real e intenso. Nada supera. Nem chega perto de alcançar.
    Outra vez, preciso tragar mais uma chance. Deliro ao sentir novamente o que outrora sentenciou a memória. As cores apagam-se. Puxada para a luz sobre o anoitecer. Sorrio. As emoções estão marcadas. Retornam. Ainda sim, continuo me surpreendendo.
    Recobro, enfim, quem fui. Sei que as mudanças sempre ocorrem. Perdi-me, também reconheço. Agora, ao achar um pouco da salvação, nem mais me escuto. Abandono tudo e todos, porém com mais cautela. Na verdade, isso nem mais importa. O que interessa é como a noite se finda. Como os pássaros entoam a canção perfeita. Afinal, sei que, no fim, é o que realmente é verdadeiro.
     Cambaleante, acordo. Ao reviver lembranças o transe é inevitável. Busco a razão. Depois, entrego-me ao luar. A vibração incontrolável. Os murmúrios. A sede pelo gosto mais delicioso. Por idas e vindas ao Olimpo. Por uma respiração ofegante. Por um mar de certezas. Que palpitam. Que inflamam a face. Que trazem a mais pura elevação de um júbilo inexplicável. De um tipo de morte. Cálida. Desvanecida. Sem fôlego. Esperando mais um sopro do prazer infinito.

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