domingo, 9 de janeiro de 2011

Soturna

 
   Dor que dilacera. Saudade que consome. Cada parte da alma. Segrega-se. O anoitecer condena as esperanças. Sentencia a madrugada. Eternamente solitária. Amarga. Abandono todos para me exilar. De qualquer coisa que não seja aquela presença. Preciso ouvir aquela voz. Sentir aquele olhar me fitando.
   Queria que não fosse tão difícil. Que as palavras viessem. De outra forma. Mas, elas vêm. Porém, para me consumir ainda mais. Para me lembrar de cada risada. De cada gesto e gosto. Ainda que eu tente fugir. É impossível.
    Não sei se o destino quer me ajudar ou punir. Afinal, ele sempre me salvou. O tempo sorri. Quero gritar. Chorar. Sucumbir. Ainda que saiba que todo esse sentimento começou antes. A angústia rondava todos os dias. Contudo, ao viver tanto, tão intensamente, esquecia o aperto no peito. As emoções sombrias.
    A salvação tem que ser feita por mim. Mas, o sangue ferve. O corpo pulsa. Inebriada por tantos anseios. Apago qualquer tipo de clamor. O que quero, no entanto, é que a lua brilhe. Que o vento sopre boas venturas. Que o amanhecer retorne e conquiste seu caminho novamente.
      Preciso que o pranto seque. Que a saudade não me incendeie outra vez. Necessito da lucidez. Da maturidade. Calma. Tranquilidade. Respiro em busca de um ar que não vem. Suspiro. Leio. Releio. Escrevo. Então, recordo que o que mais importa é que fique bem. Que a enfermidade vá embora. E, assim, sigo nos meus dias cinzas. Sem poder ajudar. Sem poder amparar. Sozinha. Sem remediação, me calo. Vou ver mais um pôr-do-sol. Com os olhos tristes, porém esperançosos.

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