terça-feira, 23 de novembro de 2010

Concupiscência

   Esperando. Sempre. Cumprindo as marcas que a vida impõe. Aceitando-as firmemente. Ilusórios sorrisos adoçam o dia silencioso. Lágrimas retornam, me perseguem. Cada instante evito procurar o que preciso. As vozes vazias se perdem. Ao redor, nada mais importa.
   Sem aquele beijo, o sentido se esvai. Enlaçada pela infinita concupiscência de possuir o que outrora me pertenceu, entro em devaneios. Arrasto-me para a dor mais profunda. Agarro com todas as forças a solidão inevitável. A imensidão abandonada. A vasta certeza que continuarei só.
    O que resta, no final, são os sonhos. Recorrentes. Incessantes. Suplicantes. Cansada, suspiro outra vez. Deixo a fumaça me envolver. Escapo das memórias. Mergulho na insana ideia do regresso. Caminho, verdade. Porém, sem sentido. Sem rumo.
    A amarga recordação do engano cometido e tão repetido assume o controle da mente. Refaço, inutilmente, a jornada mais uma vez. Não encontro respostas. As soluções esquivam-se. O desespero invade. A vontade insiste em voltar. A nostalgia recorrente deixa rastros atormentados. 
    Sublimes sensações desviam-se. O propósito é renegado. Agora sei, não restará, não haverá retorno. Remediações já foram tentadas. Não quero desistir, contudo é o outro lado que roga que isso ocorra. Soterrada em dúvidas que não se findam, respiro. E encontro, enfim a paz necessária.

2 comentários:

  1. Que legal! No mesmo momento que venho aqui, vejo um saído do forno. ^^

    Beijos, Enoe... Tem tato com a escrita, e com os devaneios conscientes.

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